quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A etnia da ignorância

“Nordestino não é gente. Façam um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”
“dividam o Brasil no meio, me nego a ser da mesma nação dos nordestinos”
“Morte aos nordestinos!”
Essas foram algumas das declarações dadas por jovens principalmente do sudeste do país nos dias que se seguiram a votação presidencial. Tudo isso foi causado por uma reação questionável de ‘politizados’ que se mostraram revoltados pela vitória da candidata do PT Dilma Rousseff e atribuíram a culpa dessa candidatura ao nordeste do país.
Agora a pergunta é: o que leva pessoas aparentemente instruídas a dizer coisas como essas? A incitarem a violência, o preconceito e até mesmo o crime em seus perfis de sites de relacionamento?
Eu diria que talvez seja a falta de limites impostos pela própria sociedade, também a falta de conhecimento, ou até mesmo a cultura do preconceito que é mantida e às vezes até incentivada em determinadas partes do país.
Me pergunto cadê essas notícias na TV? Ou nos grandes jornais? Está sendo divulgada principalmente na internet por alguns portais, e difundida pelos próprios usuários em suas redes sociais. É preciso que se entenda a seriedade do que ocorreu. É preciso ensinar para quem participou ou colaborou com esse movimento de difamação, preconceito e racismo, que tais ações caracterizam crime inafiançável e imprescritível, sujeito a reclusão de 2 a 5 anos, o que para os leigos significa: cadeia, xilindró, cana. Sem grana de papai ou mamãe pra se livrar.
A única reação até o momento anunciada foi feita pela OAB-PE, que vai abrir uma ação contra uma usuária do Twitter, a estudante de direito Mayara Petruso, que teve a sorte de ser a representante chefe desse chamado “protesto contra os nordestinos” ao pedir para matar um nordestino afogado. Em seu perfil do Orkut, Mayara ensaiou um pedido de desculpas onde disse que seu comentário era para atingir outro foco, e que não tinha problemas com ‘essas pessoas’. São tantos questionamentos que me vem a cabeça que nem tem espaço aqui para colocar. Estudante de direito? O que ela aprende na faculdade? Classe média, universitária, estagiária de um escritório de advogados em São Paulo. O que falta a ela e a toda essa geração que achou normal e até mesmo justificável o que foi dito por ela?
Agora o que se vê é uma chuva de pedidos de desculpas e as mais variadas explicações, até mesmo dizendo que seus twitters foram invadidos, que não fizeram nenhum tipo de comentário preconceituoso.
O que eu torço para que aconteça é que esse fato sirva de exemplo. Por que não precisamos de uma guerra étnica interna. Não precisamos de xenofobia interestadual, nem de incentivo ao complexo de superioridade econômica.
Só pra terminar gostaria de colocar uma informação que talvez tenha passado despercebida por esses jovens, Dilma ganharia a eleição sem o nordeste ou até mesmo o norte se levasse em consideração apenas os números das outras três regiões, e isso são números oficiais, informações que estão acessíveis a todos que se interessarem por elas. Não que se Dilma tivesse sido eleita por causa do nordeste tais atitudes se mostrassem justificáveis, mas pra que se note que o falta mesmo é conteúdo na cabeça de muito.
Ser politizado não é ser da direita ou esquerda, é ter conhecimento, saber o que está falando e por que está falando.

Um comentário:

  1. Muito bom!!
    Eu acho muito interessante esse tipo de pensamento retrógrado ainda hoje. O que uma pessoa dessa faz numa faculdade? Independente de posicionamento político ou localidade geográfica, o que faz ela pensar que é melhor que alguém? Pior é pensar que pra surgir um pensamento assim, isso deve ser comum dentro da sua familia amigos e afins. Eu teria vergonha de conhecer uma pessoa assim, LIMITADA ao seu mundinho e seus preconceitos, e se fosse paulista teria mais vergonha ainda dela, pois isso não quer dizer que os paulistas nos odeiam, ou gaúchos, ou qualquer outro do sul, isso só mostra como ainda existem pessoas preconceituosas e incapazes de enxergar a realidade, nós não temos Estados em competição, somente pessoas incapazes de formar uma opinião própria. Ah e claro, ainda tem sempre aquele que rettwita, porquê é tão limitado quanto, e ainda lhe falta "coragem" (ou vai ver tem vergonha de si mesmo né?) pra falar, vulgo maria-vai-com-as-outras.
    É né, essa é a nossa "elite politizada", orgulhem-se!

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